As casas de madeira em Portugal têm ganho popularidade, mas ainda existe o mito de que “aquecem muito no verão e arrefecem muito no inverno”. Na realidade, uma casa de madeira bem projetada oferece isolamento térmico natural superior ao de construções em alvenaria, mantendo-se confortável em todas as estações. Neste artigo, exploramos em detalhe o comportamento térmico destas casas ao longo do ano, as propriedades isolantes da madeira comparadas a outros materiais, os materiais de isolamento recomendados, técnicas construtivas eficientes, a influência do tipo de madeira (pinho, abeto, etc.) no conforto, vantagens e desafios regionais (norte vs sul) e as normas portuguesas de eficiência energética (RECS, SCE, Lei 58/2013) que se aplicam a este tipo de construção sustentável.
Comportamento Térmico ao Longo do Ano
Uma das maiores vantagens da madeira é a sua capacidade de manter temperaturas interiores estáveis, tanto no frio do inverno quanto no calor do verão. Ou seja, uma casa de madeira não tende a aquecer excessivamente nem a arrefecer demais se for devidamente isolada. Vamos analisar separadamente as duas situações sazonais:
No Inverno: Retenção de Calor e Conforto
Durante o inverno, as casas de madeira proporcionam um ambiente aconchegante. A madeira possui propriedades isolantes naturais, o que significa que retém o calor no interior e dificulta a sua fuga para o exterior Em comparação com paredes de betão ou tijolo, as paredes de madeira conduzem muito menos o frio, funcionando como uma barreira térmica eficaz. Além disso, a estrutura porosa da madeira aprisiona bolsas de ar e a sua capacidade higroscópica ajuda a regular a humidade interior, criando uma sensação de conforto térmico superior Por essa razão, uma casa de madeira bem construída consegue manter-se quente por mais tempo após desligar o aquecimento, libertando gradualmente o calor acumulado nas paredes**. Naturalmente, tal como em qualquer habitação, é essencial que a construção seja bem estanque (sem correntes de ar) e conte com sistemas de aquecimento adequados às dimensões da casa para enfrentar os dias mais gelados. Com isolamento correto e boa vedação, as casas de madeira podem necessitar até menos 30% de energia para aquecimento comparativamente a uma casa tradicional em alvenaria, segundo especialistas do setor
No Verão: Mantendo a Casa Fresca
Nos meses quentes, uma casa de madeira bem projetada mantém o interior agradavelmente fresco. A madeira tem baixa condutividade térmica, atrasando a transferência de calor exterior para o interior Assim, mesmo sob sol intenso, o calor demora mais a penetrar na habitação do que numa construção em betão, por exemplo. Estudos indicam que a madeira conduz o calor cerca de 10 vezes menos que o betão e 400 vezes menos que o açoevidenciando o seu excelente desempenho como isolante. No clima do Algarve, conhecido pelos verões intensos, as casas de madeira destacam-se por manterem a temperatura interna controlada e reduzirem a necessidade de ar condicionadoPara isso contribuem não só as propriedades da própria madeira mas também soluções de design passivo: beirados e alpendres que fazem sombra nas janelas, ventilação natural cruzada, cores claras no exterior que refletem a radiação solar e até paisagismo (árvores de folha caduca que dão sombra no verão). Combinando estes elementos, evita-se o sobreaquecimento diurno e facilita-se o arrefecimento noturno. Importa referir que, por ter menor massa térmica que a alvenaria, a madeira não armazena tanto o calor do dia – isso significa que a casa arrefece mais rapidamente à noite quando a temperatura exterior desce, o que é benéfico em regiões quentes. Em suma, no verão a madeira ajuda a casa a permanecer fresca, proporcionando conforto com menor recurso a arrefecimento mecânico
Propriedades Isolantes da Madeira vs. Betão e Alvenaria
Uma dúvida comum é se a madeira isola tão bem quanto materiais tradicionais. A resposta é clara: a madeira é, por natureza, um excelente isolante térmico, especialmente quando comparada com betão, tijolo ou pedra. De acordo com dados da Ordem dos Engenheiros, a condutividade térmica da madeira situa-se entre 0,12 e 0,16 W/m·K, enquanto a do betão pode atingir 1,4 W/m·K Ou seja, a madeira conduz muito menos calor – cerca de 10 vezes menos que o betão em valores médios Na prática, isto significa que uma parede de madeira maciça oferece melhor isolamento do que uma parede maciça de alvenaria de espessura igual. Construções em tijolo ou bloco têm de incluir camadas isolantes adicionais para atingirem desempenhos equivalentes ao da madeira Além disso, a madeira também regula a humidade interior (por ser higroscópica) e evita sensação de ar seco no inverno, algo que paredes de cimento não fazem Em resumo, madeira vs alvenaria em termos térmicos traduz-se no seguinte comparativo: a madeira apresenta isolamento natural excelente, proporcionando conforto elevado no verão e no inverno, enquanto a alvenaria por si só é fraca isolante e precisa de isolamento extra para alcançar o mesmo nível de confortoEsta eficiência térmica intrínseca torna as casas de madeira energeticamente inteligentes e sustentáveis, permitindo economizar em aquecimento e arrefecimento sem sacrificar o conforto.
Materiais Isolantes Complementares (Lã de Rocha, Cortiça, etc.)
Apesar de a madeira já ser um bom isolante, cumprir os rigorosos requisitos de desempenho térmico atuais exige quase sempre a incorporação de materiais isolantes adicionais na construção. Felizmente, as casas de madeira permitem integrar facilmente várias camadas de isolamento nas paredes, teto e pavimento. Os materiais mais usados (e adequados ao contexto português) incluem:
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Lã de Rocha ou Lã Mineral: Isolamento denso feito de fibras minerais, incombustível, com ótima resistência térmica e acústica. Muito utilizado em paredes do tipo “sanduíche” e coberturas, reduz significativamente as perdas de calor
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Cortiça: Um isolante natural e sustentável, abundante em Portugal. A cortiça expandida tem excelente comportamento térmico e acústico, além de ser permeável ao vapor (evitando condensações). Pode ser aplicada em aglomerado nas paredes ou sob o revestimento exterior.
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Fibras de Celulose: Isolamento ecológico feito a partir de papel reciclado tratado. É insuflado nas cavidades das paredes ou entre vigas, preenchendo todos os espaços. Apresenta boa capacidade de regulação higroscópica e bom desempenho térmico mesmo em climas frios.
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Painéis de Fibra de Madeira: Material isolante obtido de fibras de madeira compactadas. Tem alta densidade e inércia, contribuindo para conforto de verão e inverno. Usado em forma de placas rígidas nas paredes ou sob a cobertura, é uma opção cada vez mais popular em construção sustentável.
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Poliestireno Extrudido (XPS) ou Expandido (EPS): Embora não sejam naturais, espumas como XPS/EPS também são usadas em algumas construções de madeira – tipicamente sob o chão ou no exterior das paredes – devido ao seu elevado poder isolante. O XPS em particular é citado como um dos mais indicados para isolamento adicional em paredes de casas de madeira pela sua resistência à humidade.
Cada material tem as suas vantagens. Por exemplo, a cortiça e a fibra de madeira destacam-se por serem materiais “verdes” de baixo impacto ambiental; já a lã de rocha resiste bem a incêndios e pragas; a celulose é acessível e preenche bem vãos irregulares. Em muitos casos, combina-se mais de um isolante para obter um melhor resultado (por exemplo, lã de rocha nas paredes e cortiça no piso). O importante é que, ao complementar a madeira com isolamento adequado, as paredes e telhados atinjam um coeficiente de transmissão térmica (valor U) baixo, alinhado com as exigências do RECS/REH para edifícios habitacionais. Lembramos que até 30% das perdas de calor de uma casa podem ocorrer pela cobertura, pelo que o isolamento do telhado deve ser dimensionado com atenção especialEm suma, utilizar madeira mais um bom isolante (seja lã mineral, cortiça, celulose ou fibra de madeira) resulta numa envelope construtiva de altíssimo desempenho térmico, garantindo conforto e eficiência energética durante todo o ano.
Técnicas Construtivas que Melhoram o Desempenho Térmico
A forma como a casa de madeira é construída influencia diretamente o seu comportamento térmico. Existem essencialmente dois tipos de sistemas construtivos em madeira, cada um com características próprias:
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Casas de Madeira Maciça: Incluem as casas de troncos maciços (log homes) e construções em CLT (Cross-Laminated Timber) ou lamelados colados. Nas casas de madeira maciça, as paredes são constituídas sobretudo por madeira estrutural espessa. Estas paredes fornecem isolamento moderado (dependendo da espessura e tipo de madeira), mas têm menor resistência térmica que uma parede composta com isolamento. Para cumprir as normas em Portugal, frequentemente adiciona-se isolamento pelo exterior ou interior destas paredes maciças. Por exemplo, num chalé de troncos podem aplicar-se painéis de cortiça pelo interior, ocultos atrás de um revestimento, melhorando muito a resistência térmica sem perder o aspeto rústico exterior. A vantagem das paredes maciças está na inércia térmica: acumulam algum calor e libertam-no lentamente, ajudando a estabilizar a temperatura. Contudo, sem isolamento complementar, uma parede maciça muito espessa seria necessária para atingir os requisitos do REH (o que nem sempre é praticável). Por isso, mesmo em sistemas CLT modernos, costuma-se aplicar uma camada de isolamento térmico por fora, com revestimento final por cima, obtendo-se uma parede “híbrida” que combina massa de madeira e material isolante.
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Sistema de Parede “Sanduíche” (Wood Frame): Aqui a parede é multi-camada: uma estrutura em madeira leve (barrotes), preenchida por isolamento entre os montantes, revestida por painéis de madeira (OSB ou contraplacado) e barreiras de vapor, e acabamentos exteriores e interiores (forro de madeira, gesso, etc.). É como se fosse um “sanduíche” de madeira/isolamento/madeira. Este sistema, também chamado wood frame ou estrutura leve, é extremamente eficiente em termos térmicos, pois permite incorporar grandes espessuras de isolamento dentro da parede. Por exemplo, pode-se ter 10 a 15 cm de lã de rocha ou celulose no meio da parede, o que dá um isolamento superior ao de qualquer parede maciça equivalente. Adicionalmente, pode-se ainda colocar isolamento térmico contínuo pelo exterior (ETICS ou fachada ventilada), aumentando mais a performance. Com uma parede sanduíche bem executada, é relativamente fácil a casa de madeira atingir classificação energética A ou A+, já que o isolamento térmico pode ser otimizado sem aumentar demasiado a espessura total da parede. Outro ponto forte é o isolamento acústico: as múltiplas camadas e a possibilidade de desencontro entre estruturas fazem com que o som vibre menos de um lado a outro da parede Para assegurar esse desempenho, usam-se técnicas como paredes duplas desacopladas ou aplicação de mantas acústicas adicionais.
Em ambas as abordagens, há técnicas importantes para aprimorar o conforto térmico: uso de barreiras de vapor e vento (impedindo humidade e infiltrações de ar), eliminação de pontes térmicas (por exemplo, interpondo isolamento entre fundação e paredes), e instalação de caixilharias de qualidade (janelas com corte térmico e vidros duplos/triplos) Também é recomendável apostar em coberturas isoladas e ventiladas – e.g., um telhado de duas águas com subcobertura ventilada e isolamento robusto – já que o teto é onde se perdem/caloram grandes quantidades de energia. Por fim, o pavimento sobre terreno deve ter isolamento (espumas XPS ou lã de rocha) para evitar perdas para o solo e sensação de frio no inverno.
Resumindo, quer seja numa casa de madeira maciça complementada com isolamento, quer seja numa estrutura tipo sandwich altamente isolada, existem soluções construtivas que asseguram que estas casas excedam até o desempenho térmico de casas tradicionais. Com as técnicas atuais, as casas pré-fabricadas de madeira alcançam níveis de isolamento de classe residencial ou até passiva, tornando-as confortáveis e eficientes em qualquer clima.
Tipo de Madeira (Pinho, Abeto, etc.) e Conforto Térmico
A espécie e qualidade da madeira utilizada na construção também suscitam questões. Será que construir em pinho ou em abeto faz diferença no conforto térmico? Em termos de capacidade isolante, diferentes madeiras macias (resinosas) apresentam valores de condutividade térmica semelhantes na mesma densidade. Ou seja, pinho bravo, abeto nórdico, cedro ou outras madeiras usadas em construção têm desempenhos térmicos próximos, sendo todos materiais muito melhores isolantes que o tijolo ou o concreto. A principal diferença reside na densidade e humidade da madeira: madeiras mais densas conduzem um pouco mais de calor (lambda ligeiramente superior), mas também oferecem maior inércia térmica; madeiras bem secas e tratadas evitam fissuras e frestas por onde o ar pudesse passar, garantindo melhor estanquidade.
No mercado português de casas de madeira, é comum o uso de madeira nórdica (muitas vezes abeto ou pinho silvestre proveniente do Norte da Europa) devido à sua qualidade e resistência. O abeto nórdico destaca-se por ter fibras retas, nós pequenos e crescimento lento, resultando numa madeira estável e com boa capacidade estrutural. Já o pinho (incluindo pinho nacional tratado ou pinho nórdico) também é muito utilizado, apresentando boa durabilidade quando tratado contra insetos e fungos. Do ponto de vista térmico, ambas as opções são válidas. Profissionais da área recomendam madeiras de boa densidade, como abeto nórdico ou pinho tratado, para a estrutura, pois além do desempenho isolante garantem robustez mecânica e longevidadeImporta referir que o tratamento da madeira (autoclave, secagem em estufa, etc.) não altera significativamente a condutividade térmica, mas é crucial para a manutenção das propriedades ao longo do tempo – uma madeira empenada ou degradada poderia originar brechas nas paredes, prejudicando o isolamento.
Em resumo, o tipo de madeira influencia mais a resistência estrutural e durabilidade do que a capacidade de isolamento puro. Tanto pinho como abeto, se bem selecionados e aplicados, resultam numa casa termicamente confortável. Em construções maciças, madeiras de maior massa volumétrica (como o cedro ou algumas madeiras tropicais) podem oferecer ligeiro ganho de inércia, mantendo temperaturas internas um pouco mais estáveis perante flutuações rápidas. Já em sistemas wood frame, o tipo de madeira da estrutura tem impacto mínimo no conforto térmico, pois o isolamento é que domina o desempenho – aqui a prioridade é usar madeira seca, rectilínea e resistente (muitas vezes abeto nórdico de classe C24 é a escolha). Concluindo, quer opte por pinho, abeto, cedro ou outra madeira, o essencial é que seja madeira certificada e de qualidade, integrada num bom projeto de isolamento; assim, a casa terá conforto térmico assegurado.
Vantagens e Desafios nas Regiões Frias do Norte vs. Quentes do Sul
O clima em Portugal varia do frio e húmido no norte/montanhas ao calor seco no sul/interior. Como se comportam as casas de madeira nesses extremos?
Nas regiões frias do Norte e interiores montanhosos: As casas de madeira revelam-se muito vantajosas para enfrentar baixas temperaturas. Graças ao seu isolamento natural, retêm o calor dos sistemas de aquecimento de forma eficaz, mantendo o interior quente e acolhedorEm zonas como Trás-os-Montes ou Serra da Estrela, onde os invernos têm geadas e até nevões, uma casa de madeira adequadamente isolada precisará de menos energia para aquecer face a uma casa de pedra ou tijolo (que tradicionalmente deixava entrar frio). Além disso, como a madeira aquece mais rapidamente (não há tanta inércia para vencer), ao ligar uma lareira ou aquecimento a casa atinge uma temperatura confortável em menos tempo – um detalhe apreciável em manhãs geladas. Um desafio nestas zonas pode ser a humidade elevada e a chuva: o norte é mais húmido, e embora isso não afete diretamente o desempenho térmico, exige excelentes acabamentos exteriores (proteção da madeira contra a água) e atenção à ventilação para evitar condensação. Felizmente, a madeira ajuda a regular a humidade interior, absorvendo o excesso e libertando quando o ar seca, o que mitiga problemas de condensação nas superfícies Outro desafio é a amplitude térmica diária menor – em dias continuamente frios, a baixa massa térmica da madeira não é problema, mas é crucial manter aquecimento estável e ter geradores de calor dimensionados. No geral, nas regiões frias, as vantagens superam os desafios: conforto térmico elevado, aquecimento mais económico e sensação de casa “quente” e seca, desde que a construção siga boas práticas (isolamentos espessos, barreiras de vento, etc.).
Nas regiões quentes do Sul e litoral algarvio: Aqui o objetivo principal é evitar o sobreaquecimento diurno e refrescar à noite. As casas de madeira, quando bem concebidas, também levam vantagem neste cenário. Como mencionado, a madeira não deixa o calor passar facilmente e não o acumula em excesso, mantendo o interior mais fresco durante o dia Em comparação, muitas casas tradicionais em alvenaria no Alentejo aquecem durante o dia e libertam calor à noite para o interior, justamente pela grande massa térmica das paredes – o que pode tornar as noites desconfortáveis. Na casa de madeira, ao pôr-do-sol a estrutura arrefece depressa e, com uma boa ventilação natural (abrindo janelas estrategicamente), renova-se o ar interno rapidamente. Assim, mesmo com dias de 40 °C, o interior pode se manter habitável e à noite fica agradável sem esforço exagerado do ar condicionado. Os desafios no sul prendem-se mais com a radiação solar intensa e a necessidade de proteção UV na madeira: é fundamental ter beirados, proteger a fachada com vernizes ou tintas adequadas e, se possível, utilizar árvores ou pergolados para sombrear partes da casa nas horas de maior sol. Outra questão é a secura do ar no interior no verão – mas aqui a capacidade higroscópica da madeira volta a ser aliada, ajudando a reter alguma humidade e evitando aquele ar extremamente seco que se sente em construções de cimento no pico do verão. Em regiões muito quentes, é recomendável considerar cores claras no exterior da casa de madeira (reflete mais calor) e eventualmente soluções como painéis fotovoltaicos na cobertura, que além de produzirem energia fazem sombra no telhado. Resumindo, no sul uma casa de madeira bem isolada e sombreada oferece ambientes naturalmente frescos, diminuindo a dependência de arrefecimento mecânico e contribuindo para menor consumo elétrico, ou seja, maior eficiência energética no verão
Climas temperados e costeiros: Grande parte de Portugal (litoral centro, por exemplo) tem um clima ameno, onde as casas de madeira funcionam de forma excelente quase sem desafios adicionais – basta a aplicação normal dos isolamentos previstos na lei. Nessas zonas, a versatilidade térmica da madeira (quentinha no inverno, fresca no verão) é particularmente notória, garantindo conforto o ano todo com custos energéticos reduzidos
Em conclusão, quer no Norte frio quer no Sul quente, as casas de madeira revelam-se uma opção confortável e adaptável. Os cuidados específicos de projeto (isolamento reforçado no norte; sombreamento reforçado no sul) garantem que os desafios climáticos sejam superados pelas vantagens naturais da madeira.
Leis e Regulamentos Energéticos Aplicáveis (RECS, Lei 58/2013, SCE)
Em Portugal, as casas de madeira estão sujeitas às mesmas exigências legais de desempenho energético e qualidade da construção que qualquer outra edificação. Destacam-se os seguintes diplomas e regulamentos aplicáveis:
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Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios (REH/RECS): Trata-se do conjunto de requisitos mínimos de eficiência energética para edificações de habitação (REH) e de comércio/serviços (RECS). Foi aprovado no âmbito do Decreto-Lei n.º 118/2013, que consolida a legislação sobre desempenho energético dos edifíciosdgeg.gov.pt. Este regulamento define parâmetros como os valores máximos de transmissão térmica (U) das paredes, coberturas, pavimentos e janelas, bem como a necessidade de incorporar energias renováveis. Todas as novas construções, incluindo casas de madeira, devem cumprir estes requisitos mínimos de isolamento térmico e eficiência energética. Isso significa que na fase de projeto é necessário calcular e demonstrar que a casa de madeira terá, por exemplo, paredes e coberturas com isolamento suficiente para atingir os coeficientes U exigidos, garantindo um consumo energético reduzido para aquecimento/arrefecimento.
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Sistema de Certificação Energética dos Edifícios (SCE): Implementado também pelo D.L. 118/2013, o SCE é o sistema que emite os certificados energéticos e assegura a melhoria contínua da eficiência das habitações Toda habitação nova ou sujeita a grande reabilitação deve obter um Certificado Energético. A Lei n.º 58/2013, por sua vez, estabeleceu os requisitos de acesso e atuação dos peritos qualificados que emitem estes certificados (ou seja, regula a atividade dos técnicos do SCE)sce.pt. Em suma, para licenciar e depois vender ou arrendar uma casa de madeira, é obrigatório ter um certificado energético válido, atribuído por um perito qualificado, que classifica a casa numa escala de A+ (mais eficiente) a F (menos eficiente). Este certificado avalia a habitação conforme o cumprimento dos requisitos de isolamento, ventilação, sistemas de climatização, água quente sanitária, etc., e sugere melhorias. Casas de madeira, se bem isoladas, costumam alcançar classes energéticas elevadas (A ou B+), já que é relativamente fácil otimizar a sua envolvente térmica. Vale notar que desde 2021, todas as novas edificações em Portugal devem ser NZEB (Nearly Zero Energy Buildings) – edifícios com necessidades quase nulas de energia. Na prática, isso implica atingir patamares de desempenho muito altos, conjugando isolamento superior, sistemas eficientes (bombas de calor, painéis solares) e estanqueidade ao ar. As casas de madeira conseguem cumprir este patamar, desde que projetadas dentro das normas, podendo inclusive tirar partido da integração fácil de painéis solares nos telhados e de equipamentos como pellets ou bombas de calor ar-ar para climatização eficiente.
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Outros Regulamentos Relacionados: Além da parte estritamente energética, existem outros diplomas a observar na construção em madeira. O RGEU (Regulamento Geral das Edificações Urbanas) continua válido, assegurando requisitos gerais de segurança estrutural, salubridade e habitabilidade (aplica-se igualmente a casas de madeira) Há também o Regulamento Técnico de Estruturas de Madeira, que define critérios de dimensionamento e qualidade para elementos estruturais em madeira – garantindo que a casa seja sólida e segura. E no domínio da segurança contra incêndios, o SCIE (Segurança Contra Incêndios em Edifícios) impõe que mesmo casas de madeira tenham medidas adequadas (como tratamentos ignífugos na madeira, detectores e meios de extinção) para proteger os ocupantes. Por fim, políticas ambientais como a Política Nacional de Florestas incentivam o uso de madeira certificada de origem sustentável na construção promovendo assim a construção sustentável e responsável.
Em resumo, leis como a n.º 58/2013 e os regulamentos energéticos (REH/RECS) asseguram que qualquer casa – de madeira ou não – atinja padrões mínimos de eficiência energética e qualidade em Portugal. Portanto, construir uma casa de madeira não é “fugir às regras”; pelo contrário, implica atender a todas as normas, o que é perfeitamente viável dado o desempenho térmico inerente da madeira. O cumprimento destes regulamentos resulta numa habitação mais confortável, económica e valorizada (uma boa classificação energética pode aumentar o valor de mercado do imóvel
Certificação Energética e Eficiência para Construção e Licenciamento
No processo de licenciamento de uma casa de madeira, as questões de eficiência energética têm papel de destaque. Em etapas práticas, isto significa:
Projeto Térmico: O projeto de arquitetura/engenharia deve incluir memória descritiva e cálculos comprovando o atendimento aos requisitos térmicos do REH/RECS. Os projetistas irão dimensionar espessuras de isolamento nas paredes, cobertura e chão, escolher caixilharias eficientes e especificar sistemas (aquecimento, arrefecimento, águas quentes) eficientes. É obrigatório seguir as normas de isolamento térmico em vigor, tal como em construções tradicionais
Licença de Construção: A câmara municipal apenas emite licença se o projeto cumprir todos os regulamentos, incluindo o desempenho energético. Ou seja, uma casa de madeira terá de demonstrar na papelada que não “aquece ou arrefece demais”, mas sim que está dentro dos parâmetros exigidos. Hoje, isso inclui praticamente sempre classe energética mínima B- ou superior para novas habitações (na prática, quase todas novas tendem a ser A ou A-). Os técnicos camarários ou entidades externas poderão verificar esses cálculos antes de aprovar.
Certificado Energético: Após a construção, para obter a utilização, é necessário o Certificado Energético (CE) emitido por perito qualificado independente Esse perito fará vistorias ou análises ao edifício construído, confirmando os isolamentos aplicados, a eficiência dos equipamentos e ventilação. Se tudo estiver conforme, atribui a classe energética final. Nenhuma casa pode ser legalmente habitada ou vendida sem este certificado, segundo o SCE. Assim, uma casa de madeira precisa de um CE tal como qualquer outra – e de fato obtê-lo não é problema, já que cumpre as normas. A Lei n.º 58/2013, já referida, define inclusive a qualificação desses peritos e procedimentos, dando confiança ao processosce.pt.
Eficiência Energética e Sustentabilidade: Para além do cumprimento mínimo, muitos proprietários visam certificações ou padrões voluntários de eficiência, como Passive House ou LEED. Embora não obrigatórios em Portugal, são objetivos atingíveis com casas de madeira devido à facilidade de isolamento e vedação. Por exemplo, há casos de casas modulares de madeira certificadas como Passive House, provando desempenho térmico excecional (demandas de aquecimento inferiores a 15 kWh/m².ano). Ainda dentro do licenciamento nacional, o SCE atual valoriza também a incorporação de energias renováveis – e a casa de madeira pode facilmente integrar painéis solares fotovoltaicos ou térmicos, ou bombas de calor geotérmicas, para melhorar a classificação energética Outro ponto exigido é a qualidade da ventilação (evitar infiltrações não controladas e garantir ar saudável), objetivo alcançado com a estanqueidade das construções em madeira aliada, idealmente, a sistemas de ventilação mecânica controlada (VMC).
Custos e Incentivos: Importa referir que uma casa de madeira bem isolada não apenas cumpre a lei, mas gera poupanças significativas em consumos de energia. Atualmente existem incentivos e financiamentos (por ex., do Fundo Ambiental) para construções energeticamente eficientes e sustentáveis – onde as casas de madeira se encaixam, podendo beneficiar de taxas reduzidas ou apoio financeiro, desde que apresentem certificação energética elevada e utilização de materiais ecológicos. No licenciamento, algumas autarquias podem ser mais ágeis na aprovação de projetos sustentáveis, embora isso não esteja formalizado em todo o lado.
Em síntese, construir e licenciar uma casa de madeira requer atender a todos os requisitos de eficiência energética do país. Ao fazê-lo, obtém-se não apenas o “papel” (licença e certificado), mas sobretudo uma habitação de alta qualidade: confortável, com baixo consumo e alinhada com as metas de sustentabilidade. Com o suporte de técnicos especializados e cumprimento do SCE, o proprietário pode ter a tranquilidade de que a sua casa de madeira oferecerá desempenho térmico comprovado e duradouro.
Então, as casas de madeira aquecem ou arrefecem muito? – A resposta é que não, desde que devidamente construídas, elas mantêm-se confortáveis o ano inteiro. Graças à baixa condutividade térmica da madeira e ao uso de isolamentos modernos (lã de rocha, cortiça, celulose, etc.), estas casas conseguem ser quentes no inverno e frescas no verão, desmentindo o mito de desconforto extremoComparadas com construções tradicionais, oferecem até vantagens: precisam de menos energia para climatização, regulam melhor a humidade e aquecem/arrefecem em menos tempo quando necessário. Em Portugal, tanto no frio do norte como no calor do sul, a casa de madeira mostra-se adaptável – basta incorporar no projeto as soluções indicadas para cada clima (reforçar isolamento ou sombreamento conforme o caso).
Adicionalmente, as casas de madeira atendem rigorosamente às leis nacionais de desempenho energético: cumprem o RECS/REH, inserem-se no âmbito do SCE com certificações energéticas elevadas e beneficiam de uma construção sustentável de baixo impacto ambiental. Ou seja, não só não aquecem/arrefecem demais, como proporcionam eficiência energética e conforto superior, alinhados com as metas de construção sustentável e de qualidade. Em última análise, optar por uma casa de madeira em Portugal é optar por construção sustentável, eficiente e confortável, onde, com bom projeto e execução, os extremos de temperatura ficam do lado de fora, enquanto no interior se vive num ambiente equilibrado e agradável em qualquer estação do ano.